Ações pontuais ou marketing político? Moradores questionam intenção da gestão municipal

Na manhã desta terça-feira, 15 de abril, a Prefeitura Municipal de Valença do Piauí promoveu a distribuição de peixes à população em alusão à Semana Santa, seguindo uma prática comum em diversas cidades brasileiras. Apesar de ser uma ação simbólica e de forte apelo popular, muitos moradores demonstraram insatisfação com o caráter pontual da medida e cobraram da gestão municipal iniciativas mais efetivas e permanentes no campo da assistência social.

Embora a entrega dos peixes tenha sido amplamente divulgada pelas redes sociais oficiais e apoiadores da gestão tenham exaltado a "preocupação" do prefeito com os menos favorecidos, moradores e lideranças comunitárias apontam que a ação parece mais uma tentativa de autopromoção do que uma política pública estruturada.

"A distribuição de peixe é válida, mas precisamos de muito mais do que isso. As carências são diárias, não só na Semana Santa. Educação, saúde, assistência básica onde está a prefeitura nesses momentos?", indagou uma moradora da zona urbana.

A crítica recorrente diz respeito à dependência quase total do município em relação aos programas federais e estaduais. Na área da assistência social, por exemplo, é visível a implementação de programas como o Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC) e outros projetos do Governo Federal, além de ações de apoio do Governo do Estado. Contudo, segundo denúncias de profissionais da área e usuários do sistema, a prefeitura muitas vezes não cumpre com sua parte nos compromissos assumidos.

Ausência de políticas públicas municipais:

A assistência social, que deveria ser tripartite (federal, estadual e municipal), em Valença-PI tem sido sustentada quase que exclusivamente pelos repasses dos governos estadual e federal. Enquanto isso, o poder público municipal tem se limitado a executar ações esporádicas, como a distribuição de cestas básicas em datas comemorativas, sem um planejamento estratégico que combata, de forma contínua, a desigualdade e a vulnerabilidade social.

"A prefeitura deveria desenvolver políticas públicas próprias, com recursos municipais, voltadas ao fortalecimento das famílias em situação de risco social. O que vemos é uma gestão que só aparece em época de entrega de peixe, de kits escolares ou de datas especiais, sempre com câmeras ligadas e redes sociais preparadas para o show", comentou um servidor público da área da saúde.

Marketing disfarçado de ação social

As redes sociais da prefeitura, nesta terça-feira, recheadas de imagens do prefeito e sua comitiva distribuindo peixes, sempre com discursos enaltecendo a "preocupação com o povo". Contudo, moradores questionam se essa preocupação realmente existe durante o restante do ano, quando faltam medicamentos nos postos de saúde, merenda nas escolas e apoio aos grupos mais vulneráveis.

A crítica geral gira em torno da transformação de uma necessidade básica em palanque político. "É preciso que a população entenda a diferença entre política pública e propaganda institucional. O social não pode ser tratado como vitrine política", ressalta um analista político local.

A distribuição de alimentos durante a Semana Santa é uma ação de valor simbólico importante, mas não pode substituir a responsabilidade contínua da administração pública em garantir direitos básicos. A população de Valença do Piauí clama por mais do que peixes uma vez ao ano: quer dignidade, respeito e, sobretudo, compromisso sério com a cidadania.

Se a gestão municipal deseja realmente ser reconhecida pelo trabalho, que esse trabalho se reflita em políticas públicas constantes e transformadoras, não apenas em eventos midiáticos com fins eleitoreiros.