A distribuição de cestas e peixes é pontual ou deveria ser uma constante durante o ano

A Prefeitura de Valença do Piauí promoveu, nesta terça-feira (15), a entrega de cestas básicas e de peixes para famílias em situação de vulnerabilidade social. A ação, realizada no Centro Social Urbano (CSU), foi conduzida pela Secretaria Municipal de Assistência Social e serviu, sobretudo, como palco para discursos populistas e autopromoção de uma gestão que, ao longo do ano, pouco faz pelo combate estrutural à pobreza no município.

A secretária Ariane Rosa, tentou legitimar a ação como uma tradição, afirmando que a iniciativa ocorre anualmente. Entretanto, o tom festivo da declaração contrasta com a realidade de centenas de famílias valencianas que sobrevivem sem qualquer garantia de segurança alimentar ao longo do restante do ano.

O discurso da secretária também reforça uma burocratização que, muitas vezes, serve mais como filtro político do que como critério técnico de distribuição. "Um dos nossos critérios é a atualização dos cadastros", afirmou. O uso do termo "critérios é a atualização" soa vago e pouco transparente, especialmente diante dos constantes relatos de exclusão e possível favorecimento em ações semelhantes em anos anteriores.

Já o prefeito Marcelo Costa, em pronunciamento, repetiu o clichê da "tradição" e celebrou a entrega como um feito de grande magnitude. "Não pude deixar faltar os peixes. Esse ano aí mais uma vez ...", disse o gestor, como se a simples distribuição do pescado fosse suficiente para suprir as carências alimentares de uma população que necessita de muito mais do poder público municipal.

A fala do gestor ainda buscou atribuir um simbolismo religioso à ação, alegando que "é um momento de agradecer, de refletir, estar com os amigos, praticando o bem". Porém, na prática, o bem só é praticado com intensidade quando há câmeras registrando e microfones ligados. Fora do foco da mídia, os bairros periféricos de Valença continuam à margem das atenções do governo municipal, sem assistência adequada, saneamento, acesso digno à saúde ou educação de qualidade.

A ação da prefeitura, embora revestida de boas intenções, reforça uma estratégia de assistencialismo pontual que, na prática, alimenta mais mascara a ausência de políticas públicas estruturantes. A distribuição de alimentos na Semana Santa não pode servir de maquiagem para a fome cotidiana de centenas de famílias valencianas que seguem com diversos problemas.

Enquanto a gestão tenta mostrar sensibilidade social em datas específicas, a população carente segue esperando por políticas permanentes, programas de capacitação profissional, incentivo ao pequeno empreendedor e, sobretudo, respeito.

O peixe e a cesta básica alimentam por alguns dias. O que o povo precisa — e tem direito — é de dignidade o ano inteiro.